Custo logístico no Brasil: diagnóstico atual e caminhos para maior eficiência

O custo logístico no Brasil continua sendo um dos maiores obstáculos à competitividade das empresas e à eficiência da cadeia de suprimentos. Em 2024, os gastos com transporte de cargas no país chegaram a R$ 940 bilhões, um aumento de quase 7% em relação a 2023, de acordo com o levantamento do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) publicado pela LogWeb em 2024. Isso representa cerca de 12% do Produto Interno Bruto do país — bem acima da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), que gira em torno de 8% do PIB.
Para se ter uma ideia, países com um desempenho logístico superior, como Alemanha e Estados Unidos, mantêm seus custos logísticos entre 8% e 9% do PIB, mesmo com uma malha de transporte mais extensa e complexa. Isso porque esses países investiram de forma consistente na diversificação de modais, no uso intensivo de tecnologia e na modernização da infraestrutura — pontos que ainda são gargalos importantes no cenário brasileiro.
Neste artigo, analisaremos as principais oportunidades para se alcançar uma maior eficiência no custo logístico no Brasil.
Oportunidades para o avanço da logística brasileira
O cenário logístico brasileiro apresenta um campo fértil para transformações positivas. A ampliação dos investimentos em infraestrutura, por exemplo, representa uma grande oportunidade de ganho de eficiência e competitividade. A modernização e manutenção de rodovias, expansão da malha ferroviária e requalificação dos portos podem alavancar de maneira significativa a produtividade das cadeias de suprimento. Países como a China, que investem cerca de 5% do PIB em infraestrutura, oferecem inspiração para o Brasil ampliar gradualmente sua alocação de recursos nesse setor estratégico.
A matriz de transporte também oferece espaço considerável para evolução. Embora o modal rodoviário ainda seja predominante — representando mais de 60% da movimentação de cargas, de acordo com dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) —, há possibilidade de ampliação do uso de ferrovias e hidrovias. Essa diversificação modal pode contribuir para uma logística mais resiliente, com menor exposição a oscilações nos preços dos combustíveis e maior previsibilidade nas operações.
Outra área com grande potencial de melhoria está nos processos aduaneiros e logísticos. A adoção de soluções digitais e a integração de sistemas entre terminais, operadores e órgãos reguladores podem acelerar os fluxos e reduzir custos indiretos, como armazenagem e tempo ocioso. O avanço dos portos inteligentes e a automação dos trâmites de exportação, por exemplo, têm o potencial de beneficiar diretamente setores como o agronegócio, aumentando a competitividade internacional do Brasil.
Já no campo tecnológico, há um universo de soluções prontas para serem exploradas com mais intensidade. Ferramentas como TMS (Transportation Management System), WMS (Warehouse Management System) e Internet das Coisas (IoT) têm se mostrado fundamentais para empresas que buscam maior controle, rastreabilidade e eficiência em tempo real. Incentivar a digitalização, especialmente entre pequenas e médias transportadoras, pode representar um salto no desempenho logístico nacional. Programas de capacitação e parcerias com empresas de tecnologia são caminhos viáveis para acelerar essa transformação.
Tais oportunidades, se forem bem exploradas, podem colocar o Brasil em patamares mais altos de competitividade logística, favorecendo não apenas as grandes empresas, mas todo o ecossistema econômico nacional. O momento é favorável para uma agenda colaborativa que crie uma união entre o setor público e a iniciativa privada na construção de soluções sustentáveis e inovadoras.
O papel dos transportadores e gestores logísticos
Transportadoras e operadores logísticos não são apenas executores da cadeia, mas agentes estratégicos de transformação. Profissionais do setor precisam entender que seu impacto vai muito além da entrega pontual: suas escolhas influenciam diretamente o custo total, a sustentabilidade e a experiência do cliente. Otimizar rotas, adotar tecnologia, capacitar equipes e buscar sinergias com embarcadores e fornecedores são ações que refletem em toda a cadeia produtiva.
Para os gestores logísticos, a lição é simples e clara: a logística deixou de ser um centro de custo para se tornar uma alavanca de valor. As empresas que liderarem esse movimento — investindo em inteligência operacional, integração e sustentabilidade — estarão mais bem posicionadas para competir em um mercado globalizado e cada vez mais exigente.